Estudo inédito revela percepção sobre acesso e qualidade da Atenção Primária à Saúde

Uma mulher, um homem e uma criança caminham em direção à entrada da Unidade Básica de Saúde Vila Jaguara.
Crédito: Natália Passafaro/GIFE

Levantamento inédito divulgado nesta sexta-feira, 25 de  abril, apresenta a percepção das pessoas sobre o uso dos serviços e atendimentos da Atenção Primária à Saúde (APS). O período de coleta dos dados foi de 21 de agosto a 3 de setembro de 2024. A amostra da pesquisa foi composta por 2.458 respondentes com 18 ou mais anos de todo o Brasil. 

Os dados completos podem ser acessados e baixados na página do Programa neste link: https://observatoriosaudepublica.com.br/pesquisas/mais-dados-mais-saude/

Segundo os dados, 89,3% dos brasileiros respondentes utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). O perfil desses usuários do SUS é caracterizado pelo predomínio de mulheres, pessoas de cor parda, com renda de até R$ 3 mil, sem ensino superior e residentes em cidades do interior.

A seguir, os detalhes do perfil dos usuários do SUS mapeados pela pesquisa:.

  • 67,3% têm renda de até R$ 3 mil
  • 60,2% são mulheres 
  • 57,1% de cor parda e 16,2% de cor preta
  • 38,6% têm de 35 a 59 anos
  • 86,2% não tem ensino superior
  • 61% reside em municípios do interior

No grupo de respondentes que se dizem não usuários do SUS, 10,7% do total de pessoas ouvidas no inquérito, observou-se uma predominância de indivíduos brancos (50,8%), seguido de pessoas pardas (44.1%) e proporção de pessoas pretas significativamente menor (5,1%) em relação ao grupo usuário do SUS. As mulheres também têm predominância neste grupo (58,9). 

A maioria das pessoas que respondem não utilizar o sistema público tem de 35 a 59 anos (58,7%), reside em capitais ou regiões metropolitanas (78%) e tem renda acima de R$ 10 mil (36.3%).

Os dados refletem como o SUS presta atendimento a grupos socialmente fragilizados e à população mais vulnerável e reforçam a necessidade de políticas públicas que promovam a equidade e enfrentem as disparidades raciais e socioeconômicas no atendimento de saúde no Brasil.

Vale lembrar que os serviços públicos de saúde atingem toda a população por meio das campanhas de vacinação, atendimento em situações de emergência, programas de vigilância sanitária e outros, incluindo o grupo participante da pesquisa que respondeu não ser usuário do SUS.

O Mais Dados Mais Saúde é um programa desenvolvido pela Vital Strategies e pela Umane, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive e da Resolve to Save Lives. O objetivo é inovar na coleta de dados em saúde e apoiar estratégias da gestão pública para ampliar o acesso e a qualidade dos serviços de saúde para toda a população brasileira.

A pesquisa teve como objetivo principal levantar informações sobre a Atenção Primária em Saúde (APS), porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), para entender a percepção da população sobre o acesso e a qualidade desses serviços, considerando as diferenças sociodemográficas.

Por que as pessoas procuram ou não atendimento: diferenças entre usuários e não usuários do SUS

Outro ponto de destaque na pesquisa são os motivos pelos quais a população não busca atendimento de saúde, seja público ou privado, e não recebe atendimento mesmo quando procurado. Os dados revelam diferentes barreiras no acesso aos serviços de saúde entre usuários e não usuários do SUS.

O gráfico abaixo mostra que 62,3% da população total ouvida no inquérito não buscou ajuda de serviços públicos ou privados quando achou que precisava, e 40,5% das pessoas relataram ter buscado atendimento e não recebido nos últimos 12 meses.

Proporção das informações sobre a necessidade de ajuda para um problema de saúde sem a procura e a busca pelo atendimento sem recebimento.
(Mais Dados Mais Saúde – APS, 2024)

As razões pelas quais a população ouvida precisou, mas não procurou atendimento de saúde diferem entre os que utilizam ou não o SUS. Os respondentes podiam assinalar uma ou mais opções:

Proporção dos motivos mencionados (um ou mais) pelos quais a pessoa precisou de ajuda para um problema de saúde, mas não procurou atendimento. (Mais Dados Mais Saúde – APS, 2024)

Como mostra a imagem, quem utiliza o SUS respondeu que não buscou atendimento quando necessário porque considerou a superlotação dos equipamentos e demora no atendimento (49,1%) e a burocracia nos encaminhamentos (41,9%). 

Esses dados mostram os desafios estruturais do sistema público de saúde, que enfrenta uma demanda elevada de usuários, e reforçam a necessidade de ampliar os investimentos e aprimorar a gestão dos serviços que vão aumentar a disponibilidade e diminuir o tempo de espera para o público.

A automedicação, em terceiro lugar como motivo de ambos grupos relatarem não procurar atendimento médico, foi mencionada por 35,3% dos usuários do SUS e por 32,9% dos que não utilizam o sistema. O dado aponta para uma prática generalizada, que pode levar ao uso incorreto de medicamentos e atraso na busca por tratamentos eficazes.

Na sequência das justificativas mais citadas, a afirmação de que o problema de saúde não exigia atenção profissional também apareceu nos dois grupos, porém com 28,9 pontos porcentuais a mais no grupo dos respondentes que não utilizam o SUS. Esse resultado pode indicar que o grupo não usuário do SUS se sente mais seguro para cuidar da própria saúde ou tem menor percepção dos riscos envolvidos.

Dados sustentam decisões e políticas públicas

O perfil — predomínio de mulheres, mais da metade pessoas de cor parda, sem ensino superior e renda menor que 2 salários mínimos — e limitações de acesso e uso dos serviços de saúde pelo grupo que utiliza o SUS, destacados da pesquisa Mais Dados Mais Saúde – APS, apontam padrões de desigualdades quando comparados com o retrato da população não usuária do sistema público. 

São dados significativos que reforçam o debate sobre o papel prioritário do SUS e da necessidade de investimentos contínuos e ações integradas voltadas ao fortalecimento da Atenção Primária à Saúde, especialmente para os grupos mais vulneráveis.

Com essa recente pesquisa, o Mais Dados Mais Saúde lança luz na necessidade de continuar a produzir evidências atualizadas e acessíveis para orientar políticas públicas mais efetivas e equitativas que levem mais saúde para toda a população brasileira.