Pesquisa inédita revela impactos das mudanças climáticas na Amazônia Legal

Uma pesquisa inédita, realizada com a população da Amazônia Legal, aponta que um terço dos moradores da região, 32,4%, afirma ser sido diretamente afetado pelas mudanças climáticas. Entre as pessoas que se identificam como parte de povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a percepção de já ter sido diretamente afetado pelas mudanças do clima é ainda maior, chegando a 41,4%, 45,4% e 39,7%, respectivamente.

Esses dados estão disponíveis no Observatório da Saúde Pública da Umane e fazem parte do inquérito “Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal”, realizado por Umane e Vital Strategies, com apoio do Instituto Devive. 

Essa é primeira vez que a pesquisa contempla residentes dos nove estados da Amazônia Legal — Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins —, com segmentação para população pertencente e não pertencente a povos e comunidades tradicionais, como pescadores artesanais, indígenas, ribeirinhos, extrativistas e quilombolas. Ao todo, 4.037 pessoas foram ouvidas entre maio e julho de 2025, ampliando o conhecimento sobre uma região historicamente sub-representada em levantamentos populacionais.

A Amazônia Legal ocupa uma área de aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a 59% do território brasileiro. Administrada pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, a Amazônia Legal abriga 56% da população indígena brasileira.

Impacto do aquecimento global para cidadãos da Amazônia Legal

O estudo mostra que o aquecimento global já vem impactando o cotidiano dos moradores

da Amazônia Legal. Entre as principais mudanças notadas estão o aumento da conta de energia, relatado por 83,4% dos entrevistados; o aumento da temperatura média

(82,4%); e o aumento da poluição do ar (75%). Essas mudanças também são mais sentidas por pessoas com rendas mais baixas. O aumento da conta de energia, por exemplo, é relatado por 88,1% dos entrevistados com renda entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, e 84,7% das pessoas com renda de até R$ 2 mil. 

Em relação à percepção de eventos climáticos nos últimos dois anos, cerca

de dois terços da população da Amazônia Legal (64,7%) relataram ter vivenciado ondas de

calor, com temperaturas acima da média local. A piora na qualidade da água foi relatada por 19,9% dos respondentes, e problemas na produção de alimentos foram mencionados por 17,1%.

O levantamento revela, ainda, que nove em cada dez moradores da região acreditam que  já estamos vivenciando um aquecimento global (90,6%) e que as mudanças climáticas estão ocorrendo no Brasil e no mundo nos últimos dois anos (88,4%).

Mudança climática também altera comportamento na região da Amazônia Legal 

A mudança climática na região da Amazônia Legal também tem alterado comportamentos. 63,1% deixaram de comprar ou usar produtos que prejudicam o meio ambiente e 64% costuma separar o lixo para reciclagem. 53,3% sempre tenta reduzir comportamentos que contribuem para mudanças climáticas e 38,4% sempre se sente culpado por desperdiçar energia. O sentimento de culpa é ainda maior entre as comunidades tradicionais, como quilombolas (60,2%), extrativistas (52,3%) e povos indígenas (51,5%). 

Apesar do sentimento de culpa ser maior, os povos e comunidades tradicionais também são os que mais acreditam que sempre podem fazer algo para ajudar a resolver os problemas das mudanças climáticas: 75,4% entre os extrativistas contra 46,8% do total.

Dados que fortalecem políticas públicas inclusivas

Com a chegada da COP30, em novembro de 2025, em Belém, essa nova pesquisa do Mais Dados Mais Saúde tem como intuito de trazer dados inéditos, focados nas especificidades locais, para informar políticas públicas que protejam territórios e suas populações, sempre com um olhar voltado à redução das desigualdades

As mudanças climáticas não afetam todas as pessoas da mesma forma. Na Amazônia Legal, os impactos ambientais se somam a desigualdades históricas e estruturais, especialmente entre populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas. Nessas comunidades, o aumento das temperaturas, a escassez de água e as dificuldades na produção de alimentos também se refletem em desafios para a saúde e o bem-estar, evidenciando a necessidade de políticas públicas adaptadas às realidades locais.

A coleta e a análise de dados desagregados por raça, etnia, gênero e território — como as realizadas pelo Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal — são essenciais para compreender essas vulnerabilidades e orientar ações eficazes. Ao revelar como as mudanças do clima afetam a vida cotidiana e a saúde das populações da região, essas informações ajudam a construir políticas públicas mais equitativas, capazes de proteger tanto as pessoas quanto seus territórios.

O Observatório da Saúde Pública da Umane atua para reunir e disponibilizar evidências que contribuam para decisões mais justas, informadas e sensíveis às desigualdades. Ampliar o olhar sobre a Amazônia — e incluir a perspectiva de quem vive ali — é um passo decisivo para fortalecer políticas que promovam saúde, resiliência e equidade diante das mudanças climáticas.

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