Obesidade no Brasil: um olhar para a juventude
A obesidade no Brasil tem crescido de modo expressivo. Estimativas do Atlas Mundial da Obesidade indicam que em 12 anos 41% da população do país estará obesa, com um incremento de 2,8% anuais no número de pessoas com obesidade.
Globalmente, os dados do Atlas Mundial da Obesidade mostram que em 2020 eram 2,6 bilhões de pessoas nesta condição e as projeções para 2035 sugerem mais de 4 bilhões.
Em dezembro de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou seis novos compromissos relacionados às metas nutricionais a serem cumpridos até 2025. Entre eles, está o incremento nas iniciativas para prevenir e gerir o excesso de peso e a obesidade.
Estimativas como essas preocupam, pois sobrepeso e obesidade são associados a variadas DCNTs (doenças crônicas não transmissíveis) e podem ter grande impacto na qualidade de vida e nos sistemas de saúde. Portanto, o estado nutricional é uma das dimensões consideradas na pesquisa Covitel, que gera dados sobre o comportamento da população brasileira quanto aos fatores de risco para DCNTs.
Pesquisa Covitel 2023, consultada no Observatório da Saúde Pública, mostra que 56,8% da população brasileira está acima do peso e que 22,8% dos adultos brasileiros convivem com a obesidade. A maior prevalência de sobrepeso está entre os homens, somando 59,7%. Entre as mulheres, o índice alcança 54,2%.
Covitel 2023: indicadores de sobrepeso e obesidade
Geograficamente, Nordeste, Sudeste e Sul estão com mais da metade de sua população acima do peso. A região Sul soma 62,6% de pessoas com sobrepeso; o Nordeste registra 57,4% e Sudeste, 55,3%.
O excesso de peso atinge todas as idades. A maior prevalência está entre os 45 e 54 anos, com 68,5% da população com sobrepeso. A faixa etária compreendida entre os 35 e 44 anos também apresenta alto índice, totalizando 64,1%.
Na sequência estão pessoas dos 55 aos 64 anos, somando 59,9%. Idosos com sobrepeso são 56,8% e jovens adultos, dos 25 aos 34 anos, 52,7%. Porém, os dados que despertam mais preocupação são aqueles relacionados à obesidade e juventude.
O avanço da obesidade entre os jovens
De 2022 para 2023 o número de jovens com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30, o que configura a obesidade, saltou de 9% para 17,1% – um aumento de 90%. Atualmente, 40,3% da população com idade entre 18 e 24 anos está acima do peso no país, conforme o Covitel.
Diferentes fatores podem contribuir para o excesso de peso, sendo os hábitos alimentares e o estilo de vida fundamentais para o controle do peso corporal. Ainda de acordo com a pesquisa Covitel 2023, o percentual de jovens que consomem regularmente verduras e legumes soma apenas 39,2% e somente 33,5% comem frutas com regularidade. Em contraponto, refrigerantes e sucos artificiais estão presentes na dieta de 24,3% dos jovens.
Uma das consequências deste tipo de dieta é o seu baixo valor nutricional, isto é, a quantidade de nutrientes como sais minerais, fibras e vitaminas presentes na alimentação. Quando aliada ao consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcares, tem-se uma dieta hipercalórica e pouco nutritiva, contribuindo para o sobrepeso e a obesidade.
O estilo de vida sedentário é outro aspecto que contribui para o sobrepeso na juventude. A pesquisa Covitel mostra que apenas 36,9% dos jovens praticam ao menos 150 minutos de atividade física moderada ou vigorosa por semana. Já o tempo excessivo de tela, isto é, 3 horas ou mais diárias consumidas com celulares, tablets, videogames e outros dispositivos eletrônicos, alcança 76,1% da juventude brasileira.
Horários irregulares para as refeições e mesmo locais inadequados – comer em frente à TV ou navegando na internet via celular, por exemplo – também são fatores que contribuem para o desequilíbrio na manutenção do peso corporal.
Mitigando problemas e fomentando soluções
Os números do Atlas Mundial da Obesidade e a pesquisa Covitel 2023 evidenciam que o sobrepeso e a obesidade avançam em todo o mundo e no Brasil. Também mostram que esta condição não faz distinção de gênero ou idade, além da ampla abrangência territorial.
A longo prazo, a obesidade pode facilitar o aparecimento de hipertensão, patologias cardiovasculares, diabetes e uma série de outras doenças.
Embora o avanço do sobrepeso e obesidade juvenil seja preocupante, os custos para implementação de um programa voltado a atenuar as suas consequências são baixos se pensarmos que boa parte do problema pode ser encarado com o estímulo a uma vida mais ativa e hábitos alimentares saudáveis.
A criação e ampliação de programas nutricionais em escolas para educação alimentar, aulas de educação física com diferentes opções de atividades e envolvimento familiar na construção de uma cultura alimentar mais saudável podem ajudar a combater os problemas relacionados ao excesso de peso. E, não menos importante, a redução do estigma e o aumento das iniciativas para conscientização acerca da obesidade.