Saúde mental no trabalho: dados mostram aumento de ansiedade e depressão

Dois homens e uma mulher trabalham atentamente, sentados lado a lado.. Atrás deles, uma bancada com livros e cadeiras vazias. Ao fundo, estantes com livros.
Crédito: Ministério da Saúde

O Ministério da Previdência Social divulgou em março de 2025 dados que revelam um panorama crítico na saúde mental dos trabalhadores brasileiros. De acordo com o levantamento, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) recebeu mais de 3,5 milhões de pedidos de licença médica em 2024, sendo 472.328 por transtornos mentais. Foi um aumento de 68% no número de casos em relação a 2023 e o maior índice desde 2014.  

Os principais achados são:

  • Ansiedade e depressão são as doenças que mais causaram os afastamentos.
  • Maioria afastada é mulher (64%).
  • A média de idade das pessoas afastadas é de 41 anos.
  • Estados com maior número absoluto de afastamentos são: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. 
  • Estados com maior número de afastamentos considerado o índice por população: Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Impactos de transtornos mentais na qualidade de vida

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como “(…) parte fundamental da saúde e do bem-estar que sustenta nossas habilidades individuais e coletivas de tomar decisões, estabelecer relacionamentos e moldar o mundo em que vivemos (…)”. 

Com variação de intensidade para cada caso, os transtornos mentais podem causar prejuízos significativos no bem-estar emocional, físico, social, profissional e econômico das pessoas. 

Indivíduos acometidos por algum problema de saúde mental têm maior dificuldade de enfrentar os desafios diários, tendem ao isolamento, podem sofrer de sintomas físicos, além do sofrimento emocional, e têm maior risco de desenvolver doenças.

No Relatório mundial sobre saúde mental de 2022, a OMS alerta que pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis. 

O relatório enfatiza que os transtornos mentais são uma das principais causas de incapacidade no mundo – e, assim como na crise brasileira de saúde mental no trabalho, depressão e ansiedade são os transtornos mais comuns.

Dados do inquérito Covitel 2023, disponíveis no Observatório da Saúde Pública, mostram o aumento do diagnóstico médico de depressão e ansiedade do período pré-pandemia ao 1º trimestre de 2023. O aumento nos afastamentos por problemas de saúde mental em 2024 destaca-se como consequência dessa curva crescente de casos de depressão e ansiedade no Brasil.

  • As mulheres, maioria das pessoas afastadas do trabalho em 2024, receberam mais diagnóstico de ansiedade (34,2%) e depressão (18,1%) em relação aos homens no 1º trimestre de 2023.
  • No mesmo período, por faixa etária, o diagnóstico por depressão foi maior em pessoas com 55 a 64 anos (17%) e 65 anos ou mais (14,5%), indicando a terceira idade como grupo mais vulnerável. Já o diagnóstico por ansiedade no 1º trimestre de 2023 prevaleceu nas pessoas de 18 a 24 anos (31,6%), seguido por 35 a 54 anos (28,3%), faixa em que está o maior número de pessoas afastadas do trabalho em 2024.

Internações por ansiedade e depressão geraram quase R$ 16 milhões ao sistema de saúde

A crise de saúde mental no trabalho refletiu no aumento da demanda por serviços de saúde mental no SUS, principalmente na Atenção Primária à Saúde (APS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Um levantamento do Ministério da Saúde divulgado em janeiro de 2025 contabilizou 671.305 atendimentos ambulatoriais relacionados à ansiedade entre janeiro e outubro de 2024, um crescimento de 14,3% em relação a 2023.Segundo os indicadores do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) disponíveis no Observatório de Saúde Pública, em 2024 o Brasil registrou 30.449 internações por depressão pelo SUS (rede pública e conveniada), sendo 22.924 de pessoas acima de 25 anos. Mulheres são a maior parte deste grupo; correspondem a 63,9% das internações.

No mesmo ano, segundo o Observatório de Saúde Pública, foram registradas 2.306 internações por transtornos de ansiedade, sendo 1.623 de pessoas acima de 25 anos. 

Assim como nas internações por depressão, as mulheres prevalecem em 67,2% das internações por ansiedade. Considerando raça/cor, as pessoas de cor parda ultrapassam o número de internações por transtorno de ansiedade. São 1.173, seguidas de 969 pessoas brancas.

Os gastos acumulados por internação hospitalar em 2024 em razão da depressão e ansiedade somaram quase R$ 16 milhões ao sistema de saúde. 

O Brasil avança nas políticas públicas destinadas a aprimorar o cuidado e o acompanhamento dos usuários dos serviços de saúde mental. Em 2024, o Ministério da Saúde ampliou o investimento em saúde mental em 53% e habilitou 3.019 CAPS em todo o Brasil, fortalecendo a RAPS. 

No entanto, ainda há muitos desafios que precisam ser superados para garantir atendimento que alcance todos os estados, municípios do interior, periferias dos centros urbanos e grupos de pessoas vulneráveis.

NR-1 amplia direitos de trabalhadores no Brasil

O relatório Diretrizes sobre Saúde Mental no Trabalho elaborado pela OMS em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2022, registrou que depressão e ansiedade geram um custo anual de aproximadamente US$ 1 trilhão para a economia global. Aumento do absenteísmo no trabalho e custos elevados com cuidados de saúde fazem parte da perda econômica. 

Atualizada pela portaria MTE 1.419/24 de agosto de 2024, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR1)  incluiu ansiedade, depressão e outros transtornos mentais na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT). 

A medida reafirma a necessidade de investir em prevenção, promoção e tratamentos da saúde mental que ajudem a melhorar a qualidade de vida da população, assim como combater o estigma e promover a inclusão social. 

Garantir os direitos da pessoa trabalhadora passa por promover um ambiente de respeito que combata as causas da depressão e ansiedade no trabalho, implemente ações de conscientização, orientação e acolhimento a quem necessita.

A construção de ambientes de trabalho mais saudáveis e seguros é responsabilidade de toda a sociedade, e as empresas têm papel fundamental nessa força-tarefa.