O suicídio como questão de saúde pública
Metadados
Tipologia documental
Título
O suicídio como questão de saúde pública
Autores
Selena Mesquita de Oliveira Teixeira,Luana Elayne Cunha Souza,Luciana Maria Maia Viana
Resumo
Em uma perspectiva global, o suicídio apresenta-se, atualmente, como uma grave questão de saúde pública.Segundo registros da Organização Mundial da Saúde(1), o suicídio vitimiza aproximadamente 800 mil pessoas por ano, o que significa uma morte a cada 35 segundos no mundo. O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios, registrando, em média, 11 mil casos por ano, isto é, 31 mortes por dia, sendo o número de homens quase quatro vezes maior que o de mulheres(2,3).
Esses números podem ser ainda mais alarmantes quando se considera a subnotificação dos óbitos por suicídio. O número de casos de suicídio encontra-se camuflado entre registros de homicídios, acidentes e outras causas de morte. De qualquer forma, os registros oficiais disponíveis já permitem afirmar a gravidade desse fenômeno, que transcende a categoria de tragédia pessoal, configurando-se como um sério problema de saúde pública, especialmente em função da intensidade da dor, dos anos potenciais de vida perdidos e do seu caráter epidêmico(4,5).
Mesmo diante desses dados e do reconhecimento da amplitude e da complexidade do fenômeno, o suicídio ainda é um tema tratado como tabu. De forma específica, é considerado como o ato humano de infligir a si próprio o fim da vida. Para sua delimitação, pode-se considerar como central a noção de intencionalidade de morte do indivíduo que tenta suicídio(5).Comportamentos suicidas não fatais se classificam, desde a ideação suicida - os diferentes níveis de pensamento que fomentam o suicídio, acompanhados de planejamento ou não - até a tentativa de suicídio, configurada como comportamento autolesivo em que há a intenção de pôr fim à vida(2).
A fronteira entre a ideação suicida, a tentativa de suicídio e o suicídio propriamente dito é muito tênue. Em geral, angústias e sofrimentos que sustentam a ideia ou intenção de suicídio podem atingir um nível avassalador e impulsionar o ato. Essa estreita fronteira alerta que a morte autoinflingida quase sempre é pensada, planejada e precedida por tentativas, ampliando, assim, as chances de intervenções preventivas imediatas e efetivas. Tal afirmação não descarta os casos que não passam por um planejamento, em geral, decorrentes de um impulso desesperador(6).
Assim, o suicídio caracteriza-se como um fenômeno marcado pela complexidade, que se configura como processo humano e universal. Trata-se de um processo cuja causa não deve ser reduzida a um acontecimento específico. Desse modo, para compreendê-lo é primordial que seja considerada a trajetória de vida do indivíduo, sua subjetividade, bem como variáveis ligadas ao contexto histórico, econômico e cultural. Nessa perspectiva, o suicídio exige uma análise da culminação dos fatores psicossociais e das experiências singulares do indivíduo. A complexidade do suicídio reside na maneira como esses fatores se entrelaçam e, sobretudo, se potencializam(7).
A dinâmica de diversos fatores de risco em um indivíduo vulnerável ocasiona o surgimento de uma dor psíquica que pode atingir intensidade intolerável, impedindo-o de enxergar outra possibilidade de sua interrupção que não seja antecipar o próprio fim. Esse conjunto de fatores é uma questão essencial quando se estuda o fenômeno do suicídio, podendo ser discutido no resgate de histórias de vida de pessoas que efetivaram suicídios(8).
Conhecer os fatores que predispõem uma pessoa a tentar tirar sua própria vida é o primeiro passo para que se criem programas eficazes e efetivos de prevenção, bem como para a estruturação de políticas públicas, ou seja, um levantamento de alternativas sobre o que fazer com esse problema de saúde pública através de instrumentos e estabelecer um curso de ação(9).
Na análise dos fatores relacionados ao suicídio, a identificação de transtornos mentais é fundamental e pode ajudar o profissional da saúde a considerar clinicamente o risco e analisar as estratégias para reduzi-lo. Entre os transtornos mentais relacionados a casos de suicídio, tem-se transtornos do humor, sobretudo a depressão