Observatório analisa: Fatores de risco modificáveis

Publicado em 29/11/2024

Fatores de risco modificáveis, como tabagismo, alimentação não saudável, atividade física insuficiente e consumo de álcool podem ter impactos negativos sobre a saúde da população. O tabagismo está relacionado a doenças como câncer e problemas cardíacos. A alimentação inadequada, rica em gorduras, açúcares e sal, eleva o risco de obesidade, diabetes, hipertensão e câncer. A realização insuficiente de atividade física contribui para doenças cardiovasculares e metabólicas. O uso excessivo de álcool está associado a doenças hepáticas, transtornos mentais, câncer e acidentes. Deste modo, a adoção de hábitos mais saudáveis é uma ferramenta fundamental na prevenção de doenças e na melhoria da qualidade de vida da população.

O QUE SÃO FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS?

Os fatores de risco modificáveis na saúde referem-se a comportamentos e condições que podem ser alterados por mudanças ou intervenções no estilo de vida, com o objetivo de prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e melhorar a qualidade de vida. Eles são considerados modificáveis porque dependem de comportamentos pessoais e fatores ambientais que podem ser alterados, ao contrário de fatores não modificáveis como idade, sexo e predisposição genética.

Os principais fatores de risco modificáveis incluem o tabagismo, a alimentação não saudável, a atividade física insuficiente e o consumo de álcool. Esses fatores estão fortemente associados a DCNT como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer e doenças respiratórias. A prevenção e o tratamento desses fatores envolvem abordagens integradas que incluem mobilização política de acesso e inclusão, educação em saúde, mudança comportamental e, em alguns casos, intervenções médicas.

A prevenção depende de políticas públicas eficazes de educação em saúde e ambientes que facilitem a adoção de estilos de vida saudáveis. Campanhas de conscientização, regulamentação da venda de produtos como cigarro e álcool, e a promoção de espaços para a prática de atividade física são algumas das estratégias adotadas por governos e organizações de saúde.

Nos casos em que mudanças no estilo de vida não são suficientes, intervenções médicas podem ser necessárias. Por exemplo, para hipertensão ou diabetes tipo 2, podem ser prescritos medicamentos que ajudem a controlar os sintomas.

Nesse sentido, intervenções precoces e mudanças comportamentais, combinadas com apoio de profissionais de saúde, podem reverter ou diminuir significativamente os efeitos negativos desses fatores na saúde. Veja a seguir alguns dos fatores de risco modificáveis e seus impactos na saúde da população brasileira.

TABAGISMO

O tabagismo é uma das principais causas de mortes prematuras (30 a 69 anos) no mundo e está associado a uma série de condições de saúde, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, câncer de pulmão e outros tipos de câncer. O tabagismo envolve a dependência da nicotina presente nos produtos derivados do tabaco, como cigarros tradicionais e cigarros eletrônicos (também conhecidos como vape), sendo um dos maiores desafios para a saúde pública global e brasileira.

Segundo a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2023), a prevalência do tabagismo afeta uma parcela significativa da população, ainda que tenha sido observada uma queda desta taxa nas capitais brasileiras nos últimos anos. De acordo com os dados, cerca de 9,3% da população adulta brasileira é fumante e 13,1% é ex-fumante, sendo maior a prevalência entre os homens em comparação às mulheres.

Em relação à escolaridade, a prevalência do tabagismo é maior entre indivíduos com até 8 anos de estudo em comparação aos que possuem 12 anos ou mais.

Dados do relatório do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em tempos de pandemia (Covitel 2023) apontam um maior uso e experimentação de cigarro eletrônico entre os brasileiros mais jovens, com destaque para a faixa etária de 18 a 24 anos.

Analisando os padrões de consumo de cigarro eletrônico no primeiro trimestre de 2023, cerca de 6,1% dos indivíduos entre 18 a 24 anos relataram fazer uso não diário do cigarro eletrônico e 0,5% usar diariamente. Este percentual de usuários permanece preocupante na faixa etária de 25 a 34 anos, com aproximadamente 3,8% tendo respondido fazer uso não diário e 0,5% tendo relatado fazer uso diário.

Fonte: Observatório da Saúde Pública.

ALIMENTAÇÃO NÃO SAUDÁVEL

A alimentação não saudável é caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras saturadas, açúcares, sal e produtos ultraprocessados, com baixo valor nutricional. Essa dieta inadequada está associada ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer, sendo um dos principais fatores de risco modificáveis para a saúde.

Segundo dados da Vigitel 2023, a prevalência de uma alimentação não saudável permanece alta nas capitais brasileiras. O consumo insuficiente de frutas e verduras é um dos principais indicadores desse comportamento, com aproximadamente 78,7% dos brasileiros não atendendo à recomendação diária mínima de consumo desses alimentos.

Dados desta pesquisa apontam também que as mulheres apresentam um comportamento alimentar melhor do que os homens nas capitais brasileiras, apresentando ao longo dos últimos anos uma tendência de consumo da quantidade recomendada de frutas e verduras superiores ao dos homens, um menor consumo de cinco ou mais grupos de produtos ultraprocessados e um menor consumo de refrigerantes cinco ou mais vezes na semana.

Em relação à escolaridade, pessoas com 12 anos ou mais de estudo tendem a ter um perfil alimentar mais saudável, com um maior consumo de frutas e hortaliças e uma menor ingestão de refrigerantes. 

Sobre a faixa etária, a tendência de maior ingestão de ultraprocessados e de refrigerantes é mais comum entre jovens de 18 a 24 anos. Além disso, jovens de 18 a 24 anos apresentam uma tendência de consumo recomendado de frutas e hortaliças inferior a de indivíduos entre as faixas etárias de 45 a 54, 55 a 64 e de 65 ou mais anos de idade.

ATIVIDADE FÍSICA INSUFICIENTE

A atividade física insuficiente é definida pela prática de menos de 150 minutos semanais de atividade física moderada ou menos de 75 minutos de atividade intensa, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A falta de atividade física é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.

De acordo com dados do Vigitel 2023 , a prevalência de atividade física insuficiente na população adulta brasileira permanece alta. No geral, cerca de 46% dos brasileiros nas capitais brasileiras não praticam atividade física.  Dados desta pesquisa mostram que apenas 4,7% dessa população realiza exercícios todos os dias da semana, revelando um padrão preocupante, especialmente em áreas urbanas, onde o sedentarismo é mais comum.

Nas capitais do Brasil, observa-se uma tendência mais acentuada à prática de exercícios físicos entre os homens em relação às mulheres.

A prática também é mais comum entre pessoas com maior escolaridade. Dados da pesquisa indicam que cerca de 67% dos indivíduos com 12 ou mais anos de estudos realizam algum tipo de atividade física, enquanto para pessoas com até 8 anos de estudo esta porcentagem cai para aproximadamente 40,6%.

Fonte: Observatório da Saúde Pública.

Pesquisa sobre fatores de risco modificáveis

Pesquisas sobre fatores de risco modificáveis na saúde têm ganhado destaque em universidades e institutos brasileiros, devido à relação entre esses comportamentos e o desenvolvimento de doenças crônicas. As investigações se concentram em temas essenciais, como tabagismo, alimentação inadequada, sedentarismo e uso nocivo de álcool, refletindo a relevância desses comportamentos na epidemiologia de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

Instituições renomadas, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estão à frente de tais investigações. Estudos sobre tabagismo exploram a eficácia de programas de cessação e campanhas de conscientização. Outras investigações têm analisado intervenções que visam reduzir o consumo de tabaco em populações vulnerabilizadas. 

Na área de alimentação, a pesquisa foca em padrões alimentares inadequados e suas associações com obesidade e doenças metabólicas. Têm destaque nesses estudos o desenvolvimento de estratégias de reeducação alimentar e intervenções em comunidades. 

O sedentarismo também é uma preocupação crescente, com pesquisas investigando barreiras à prática de atividade física, especialmente em grupos de baixa renda. Além disso, o consumo de álcool tem sido abordado por meio de estudos que analisam suas consequências sociais e de saúde, especialmente entre jovens.

Essas pesquisas são fundamentais para orientar políticas públicas e programas de promoção da saúde no Brasil, oferecendo dados e soluções baseadas em evidências científicas para combater a alta prevalência de fatores de risco e doenças relacionadas.

Na Coleção de Documentos Científicos da Biblioteca do Observatório da Saúde Pública existem mais de 211 artigos científicos sobre o tema. Três periódicos se destacam na publicação de trabalhos sobre esses temas: a Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento (RBONE), o periódico Ciência & Saúde Coletiva e os Cadernos de Saúde Pública.

Artigos sobre o tema fatores de risco modificáveis na Biblioteca do Observatório da Saúde Pública.

Como adotar hábitos de vida saudáveis?

Adotar hábitos de vida saudáveis envolve mudanças graduais que beneficiam o corpo e a mente. Comece por uma alimentação equilibrada, priorizando alimentos naturais, como frutas, verduras, legumes, proteínas magras e grãos integrais. Evitar processados e reduzir o consumo de açúcares e gorduras saturadas também é essencial. A prática regular de atividade física, como caminhadas, ciclismo ou esportes, é fundamental para melhorar a resistência, fortalecer o coração e reduzir o estresse. Além disso, manter uma rotina de sono adequada ajuda na recuperação do organismo e aumenta a energia diária. Controlar o estresse e cuidar da saúde mental são igualmente importantes; meditação, hobbies e tempo com amigos e familiares contribuem para o bem-estar emocional. Pequenas mudanças diárias, aliadas à disciplina e à consistência, fazem a diferença na construção de uma vida mais saudável.

É importante ressaltar que adotar hábitos de vida saudáveis pode ser mais fácil e acessível com o uso de espaços públicos adequados. Para isso, é fundamental a existência de políticas públicas que construam, incentivem e valorizem esse tipo de local. Parques, praças, academias ao ar livre e ciclovias são locais adequados para a prática de atividades físicas ao ar livre e socialização. Caminhar, correr, pedalar ou praticar esportes nesses ambientes melhora a saúde física e mental, reduz o estresse e fortalece os laços comunitários.

Para incentivar esse uso, políticas públicas podem incluir a criação e manutenção de áreas verdes, programas de esportes gratuitos e campanhas de conscientização sobre a importância da atividade física. Além disso, iniciativas como o fechamento de ruas para pedestres aos finais de semana e o suporte ao transporte ativo, como ciclovias e ciclofaixas, facilitam o acesso da população a práticas saudáveis. Parcerias com escolas e organizações também podem estimular os jovens a se engajarem em atividades físicas, formando hábitos saudáveis desde cedo.

Faça uma busca a seguir sobre temas de interesse a respeito desse tema nos documentos da biblioteca digital.

Projetos apoiados pela Umane nesse tema

Coortes de Pelotas – Saúde ao longo do ciclo vital   desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Enfrentamento da Obesidade Infantojuvenil desenvolvido pelo Instituto Desiderata

Experiências que alimentam II desenvolvido pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN)

Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel) – desenvolvido pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

NutriNet Brasil desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas de São Paulo (NUPENS/USP)

Centro Internacional de Equidade em Saúde   desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)